Baudrillard disse que para o ser humano viver em seu simulacro de realidade é necessário que a ele sejam fornecidas gotas de realidade, doses homeopáticas nas mídias de massa (mass medias) que permitam o indivíduo “saber” o que está acontecendo do outro lado do mundo ou na própria esquina de sua casa, mas sem ter o verdadeiro contato, que causa o sofrimento real.
Dessa maneira, o indivíduo apercebe-se da realidade, mas não a vive realmente. Ele sabe que o sofrimento é, na verdade, sempre alheio. Tais doses homeopáticas agem como uma vacina, a “letalidade diminuída” o deixa imune a quaisquer acontecimentos reais.
Vivemos, hoje, por conta do coronavirus, os efeitos menos esperados dessa vacinação: o indivíduo não consegue perceber a letalidade real e próxima apresentada no espetáculo midiático da pandemia, palavra, aliás, que batizou vários filmes e documentários anteriores, sendo em sua própria carga emocional como aquele algo terrível que mata milhões, mas – no final – há um salvação.
Mas há algum filme cujo final represente a realidade ou todos apresentam a visão idealizada de “tudo vai dar certo”?
Tal qual o menino que fingia se afogar e que um dia morreu por estar realmente se afogando – e ninguém o socorreu – nossa sociedade afoga-se em meio a um maremoto viral em um continente, mas os expectadores dos outros continentes parecem achar que só é fingimento.
E se não for? Quantos de nós terão que partir para que saíamos da passividade? Tenho a impressão que saberemos em breve, infelizmente.